quinta-feira, 2 de julho de 2009

Esclarecimentos a respeito da retirada dos micos-leões-de-cara-dourada de Niterói


Tudo dentro de uma floresta tende ao equilíbrio e qualquer interferência pode acabar com essa harmonia. Principalmente a presença humana, seja direta, através do desmatamento, retirada de lenha e caça, seja indireta, pelo lixo produzido, poluição ou proximidade dos animais domésticos, interfere nesse equilíbrio tão delicado.

É mais ou menos como um motor de um carro que não funciona direito quando uma única peça (às vezes a menor e de aparência mais insignificante) está com defeito. A diferença é que conhecemos o motor do carro e um mau funcionamento faz o carro parar, chamando nossa atenção imediata para o problema, enquanto na floresta as espécies vão desaparecendo gradualmente e, quando percebemos que as coisas não estão funcionando bem, geralmente é tarde demais, e várias espécies já se extinguiram.

Algumas pessoas pensam que restaurar ecossistemas e impedir a extinção de espécies dentro de uma floresta são processos simples, mas não são! O sistema é tão complexo e são tantos os componentes e as conexões, que a perda de um simples fungo, por exemplo, pode comprometer o "funcionamento do motor" e desencadear um processo com conseqüências que podem ser catastróficas, ainda que perceptíveis apenas depois de anos.

Há casos em que um ecossistema natural funciona como o corpo humano, onde, por exemplo, o mau funcionamento de algumas artérias não leva, necessariamente, a um ataque cardíaco, e a perda de alguns neurônios não impede o funcionamento do cérebro, uma vez que nosso organismo usa outros meios que antes não eram tão importantes (rotas alternativas) para compensar a passagem do sangue ou as informações nervosas - e, assim, continuamos vivos. Numa floresta, algumas conexões perdidas também podem, eventualmente, ser substituídas, mas como no corpo humano essa perda tem limites e, se abusarmos, um dia nosso organismo entra em colapso, com danos que podem ser permanentes ou irreversíveis.

Mas o que isso tem a ver com o mico-leão-de-cara-dourada? Tudo!

O mico-leão-de-cara-dourada é uma peça estranha nas florestas de Niterói, São Gonçalo e Maricá, e por isso está interferindo negativamente neste ambiente. Em condições naturais, essa espécie vive em harmonia apenas em algumas florestas da Bahia, onde evoluiu e é parte integrante natural do sistema, junto com outras plantas e animais nativos (muitos deles exclusivos) daquela região específica. Já na região de Niterói, esse mico-leão de origem baiana foi solto artificialmente; alguém abriu as gaiolas e deixou os micos saírem! Aqui em Niterói e região ele atrapalha, pode causar um estrago sem precedentes e tem potencial para se tornar uma praga que prejudicará profundamente a sobrevivência das espécies nativas da região.

Uma espécie se torna praga quando desequilibra o ambiente em que vive e passa a comer, se reproduzir ou desempenhar outra função sem controle, ameaçando outras espécies que ocorrem na área. A população de mico-leão-de-cara-dourada que foi solta em Niterói está crescendo descontroladamente. Essa quantidade de indivíduos maior do que a normal, se alimentando diariamente de frutos e insetos das matas locais, faz com que outros animais que também dependem desse recurso para sobreviver, como as aves, passem fome, podendo até desaparecer da região; há também o risco de consumo excessivo de determinadas espécies de insetos e plantas, levando-as à extinção local.

As pessoas que soltaram esses micos-leões baianos provavelmente não tinham idéia do mal potencial que esses animais podem causar. E se tivessem soltado leões ao invés de micos-leões? O que teria acontecido? Não podemos ficar soltando animais em qualquer lugar porque o dano pode ser catastrófico.

Essa população de micos-leões-de-cara-dourada que está crescendo rapidamente não vai ficar restrita apenas à Serra da Tiririca e ao parque Darcy Ribeiro. Na medida em que se aproximam da idade adulta, os jovens da espécie saem de seus grupos originais para formar novos grupos, que precisarão ocupar outras áreas. Um dos maiores problemas é que em outras matas do estado do Rio de Janeiro já existe o mico-leão-dourado, que é nativo. Com a expansão da área de ocupação do mico-leão-de-cara-dourada, há risco de contato com as populações naturais de mico-leão-dourado, que podem ser expulsas das matas restantes e/ou até levadas à extinção. Mesmo sem essa nova ameaça, o mico-leão-dourado, espécie exclusivamente fluminense, corre risco de extinção muito maior do que seu parente baiano; essa expansão artificial (causada pelo homem) do mico-leão-de-cara-dourada pode ser a causa final de uma catástrofe que vem sendo evitada e combatida há décadas: a extinção do mico-leão-dourado.

Existe ainda o risco de cruzamento entre essas duas espécies, gerando descendentes híbridos com resultados totalmente imprevisíveis. Já escutamos comentários de que o cruzamento dessas duas espécies pode criar uma "nova espécie", mas isso está completamente errado! Duas espécies diferentes (como esses dois micos-leões) não são como variedades de milho, que você cruza e cruza novamente, e novamente, até obter novas variedades com qualidades selecionadas de acordo com a necessidade do agricultor (milho para pipoca, milho para farinha, milho para comer na espiga, etc.). É tão difícil manter essas qualidades que os produtores clonam as variedades para manter a qualidade do tipo de milho escolhido.

No mundo natural os híbridos podem herdar características que os tornarão mais fracos, menos aptos a sobreviver, em comparação com as espécies originais. Mas também pode acontecer o contrário, ou seja, os híbridos gerados podem ser mais fortes, se expandir rapidamente e, no caso desses primatas, suplantar os micos-leões-dourados. Isso seria o fim do mico-leão-dourado na natureza, porque depois que duas espécies se misturam, gerando diversas gerações de híbridos, não há mais como separá-las e "resgatar" as formas originais, e isso acontece mesmo com os híbridos mais fracos.

Seja como conseqüência do desequilíbrio causado ao ecossistema (no caso, as florestas de Niterói), pela competição ou pela hibridação (mico-leão-dourado X mico-leão-de-cara-dourada), no final, a introdução dessa espécie não nativa do estado do Rio de Janeiro pode causar o desaparecimento de várias outras espécies e empobrecer violentamente as matas da região.

Não podemos simplesmente cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, pois os piores cenários ambientais podem ser acarretados por esse tipo de atitude passiva. No mundo todo há relatos extremamente sérios e bem documentados a respeito de tragédias ambientais causadas pela introdução de espécies não-nativas em ecossistemas que estavam tentando se manter em equilíbrio. Muitos desses casos são calamidades sem retorno! As áreas florestais restantes nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá já estão em situação de alerta em termos de conservação, pois são poucas e muitas estão isoladas entre si, estão cercadas por zonas urbanas, industriais e rodoviárias, e todas já se encontram seriamente descaracterizadas por conta do avanço de plantas e animais não-nativos sobre suas matas. Dentro do possível, elas devem ser mantidas como matas nativas, protegidas das violências desse tipo de descaracterização, pois são áreas de preservação ambiental e não quintais residenciais ou grandes jardins privados.

Temos que interferir sempre que ameaças mais sérias são detectadas, antes que se atinja graus irreversíveis de catástrofe. Por isso é necessário remover os micos-leões-de-cara-dourada das florestas de Niterói e região.

Nossa proposta é retirar as "peças estranhas" que vieram da Bahia (o mico-leão-de-cara-dourada) e seus descendentes, que estão perigosamente atrapalhando e desestruturando o ambiente local. Para o futuro, planejamos soltar micos-leões-dourados, numa tentativa mais adequada de tentar fazer com que a floresta volte a ser como era antes - pois este sim, o mico-leão-dourado, ocorria naturalmente nas matas de Niterói, São Gonçalo, Maricá e região, pelo menos até o começo do século XX. Com a exclusão do intruso "de-cara-dourada", o filho pródigo, legitimamente fluminense, poderá voltar para casa.

Quando andamos na região ficamos impressionados com o tanto de floresta preservada que ainda existe em Niterói e queremos ajudar a proteger essas áreas. Não queremos prejudicar ninguém e, podem acreditar, capturar e remover os micos-leões-de-cara-dourada vai impedir que o mal cresça ainda mais. Sabemos que muitas pessoas em Niterói também estão trabalhando para proteger a fauna e a flora da região. Assim, pedimos que compreendam que estamos aqui para ajudar, colocando nossa experiência técnica e profissional a serviço do melhor destino possível dessa mesma fauna e flora.

Quaisquer dúvidas que vocês tiverem, por favor, nos procurem para conversar mais, esclarecer e discutir o assunto.

domingo, 21 de junho de 2009

Onde estão localizados os micos-leões-de-cara-dourada em Niterói

Os grupos de micos-leões-de-cara-dourada estão distribuidos na Reserva Ecológica Municipal Darcy Ribeiro/Prefeitura de Niterói e no Parque Estadual da Serra da Tiririca/INEA.
Essas áreas estão localizadas na região de distribuição original do mico-leão-dourado que ocorre somento no Estado do Rio de Janeiro. A introdução de outra espécie de mico-leão pode comprometer a sobrevivência dos micos-leões-dourados que ocorrem em regiões vizinhas.


Os micos-leões-da-cara-dourada introduzidos e invasores podem expulsar os micos-leões-dourados, através da competição direta e/ou introduzindo doenças que não existiam na região. Além disso, o que representaria uma catástrofe, as duas espécies poderiam se misturar, dando origem a uma população de híbridos, que com certeza se espalhariam, ocupariam os remanescentes de Mata Atlântica e poderiam, inclusive, extinguir os micos-leões-dourados. A população de mico-leão-dourado mais próxima está localizada a apenas 40 Km em linha reta da área onde se encontra a população de micos-leões-da-cara-dourada.

Endereço para Correspondência

Instituto Pri-Matas para a Conservação da Biodiversidade
Caixa Postal 3304
Bairro Savassi - BH - MG
CEP: 30112-970
E-mail: primatas.caradourada@gmail.com

Apoio Financeiro e Logístico

O projeto de levantamento dos micos-leões-da-cara-dourada está sendo financiado pelo "Lion Tamarin of Brazil Fund" - LTBF

Apoiado e licenciado pelas seguintes Instituições:
- Comitê Internacional para a Recuperação e Manejo dos Micos-Leões
- Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio
- Instituto Estadual do Ambiente - INEA/RJ
- Reserva Ecológica Municipal Darcy Ribeiro/Niterói, RJ