Muito tempo se passou desde abril,
quando a equipe de campo chegou a Niterói para acompanhar e resolver a situação
dos grupos de micos-leões-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) e,
desde então, muita coisa aconteceu.
Além da equipe que monitora os
grupos, a equipe de Educação Ambiental está visitando e informando, neste
momento, a população e os moradores dos bairros e condomínios do entorno do
Parque Municipal Darcy Ribeiro sobre o trabalho que desenvolvemos para a
conservação tanto do mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas)
quanto do mico-leão-dourado (Leontopithecus
rosalia).
Os biólogos e veterinários da equipe
de monitoramento têm acompanhado diariamente os grupos para ter certeza do
número de indivíduos e que área de uso/território eles estão usando, para planejar
a captura.
Cada grupo é formado por uma família:
pai, mãe, filhotes de diferentes idades, tios e tias. Precisamos ter certeza do
tamanho do grupo para não capturar indivíduos de grupos vizinhos e diferentes,
pois isso poderia causar um problema sério de conflitos/brigas e até mesmo a
expulsão do indivíduo.
Após meses de monitoramento capturamos dois grupos na área de floresta que fica próxima a Itaipu. As maiores dificuldades durante a captura têm sido a proximidade dos micos das casas, os animais domésticos, que são uma ameaça para os grupos, e a presença dos saguis ou micos-estrela (Callithrix spp.), também invasores abundantes na área.
Durante o monitoramento foi observado um mico-leão eletrocutado em um fio de alta tensão e outro machucado, provavelmente queimado ao encostar-se à rede elétrica. Vários moradores relataram, também, ataques e casos de predação de micos-leões-da-cara-dourada por cães e gatos domésticos.
Depois de capturados, os animais foram levados para o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro – CPRJ, onde passaram por um protocolo de avaliação clínica que incluiu exames das condições físicas e de saúde, medidas biométricas, coletas de material biológico para análises de diversas doenças e genética. Após este manejo, os animais ficaram por cinco semanas em recintos apropriados (a chamada quarentena), para observação sanitária e aguardar os resultados dos exames.
Os exames indicaram que os micos
estavam aptos à translocação, ou seja, poderiam ser soltos na Bahia. Eles então
foram acomodados em caixas específicas, feitas especialmente para o transporte
(cada família em uma caixa), e seguiram em voo da TAM até Porto Seguro, na
Bahia. Durante a viagem os micos-leões-da-cara-dourada e a veterinária que
acompanhou os grupos foram muito bem tratados por todos da TAM Cargo.
Ao chegarem à Bahia, e antes de serem
soltos, os animais receberam marcas individuais com tintas especiais para
facilitar a identificação no campo, e rádios transmissores para ajudar na
localização e monitoramento dos grupos na floresta.
Na madrugada do dia seguinte os micos
foram transportados dentro das caixas para a floresta até os locais de soltura
e as famílias foram soltas distantes uma da outra. Foram deixadas bananas
presas nas árvores e os pesquisadores ficaram escondidos para não espantar os
micos quando saíssem das caixas. Para nossa surpresa, nenhum indivíduo, ao ser
libertado, comeu das bananas. Todos saíram
tranquilamente das caixas e se locomoveram calmamente pela floresta.
O monitoramento dos grupos começou no
dia seguinte à soltura. A equipe localizou os micos-leões-da-cara-dourada
usando o rádio receptor (que capta os sinais dos rádios transmissores colocados
nos indivíduos), os grupos foram conferidos e foi possível observar os micos
comendo frutos nativos, o que é um ótimo sinal de que existem alimentos na área
que eles já identificaram. Os micos estão bem e parecem à vontade no novo
endereço. A floresta também agradece a presença de mais um dispersor de
sementes.
Esse primeiro passo foi importante
para termos a certeza de que tudo o que planejamos funcionou: captura,
quarentena, transporte e soltura. Não existe um método exato para translocar
micos-leões entre estados e esta é a primeira vez que isto está sendo feito. Como
tudo deu certo, de agora em diante seguiremos os mesmos procedimentos para as
novas capturas e translocações.
Mais
uma vez contamos com a população para indicar e informar os locais de
visualização dos micos-leões-da-cara-dourada em Niterói. Desta forma todos
ajudam na remoção desta espécie que, apesar de ameaçada de extinção, é invasora
no Rio de Janeiro; e ajudam também na translocação para uma área onde ela
naturalmente ocorre.
Att.;
Equipe Pri-Matas