Sucesso na retirada
do mico-leão-da-cara-dourada do estado do Rio de Janeiro
66
indivíduos já foram transportados para o sul da Bahia, sua região de origem
O
mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) habita a Mata
Atlântica da região sudeste da Bahia e extremo nordeste de Minas Gerais, e está
ameaçado de extinção, classificado como “Em Perigo” pelas listas da IUCN e do
Ministério do Meio Ambiente. Já o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia)
é encontrado apenas em remanescentes de Mata Atlântica da região costeira do
estado do Rio de Janeiro, e também foi incluído como “Em Perigo” nas listas
citadas. As duas espécies estão ameaçadas principalmente devido à destruição de
seus hábitats.
Em 2002 foram observados,
pela primeira vez, indivíduos de mico-leão-da-cara-dourada numa área florestada administrada
pelo INEA – Instituto Estadual do Ambiente do estado do Rio de Janeiro, em
Niterói. Os indivíduos encontrados foram inadvertidamente introduzidos nessa
área e sua população está se expandindo a ponto de ameaçar a sobrevivência dos
micos-leões-dourados (nativos) que ocorrem nas regiões vizinhas. A espécie
introduzida se alimenta dos mesmos recursos (frutos e insetos), usa os mesmos
locais de dormida, os mesmos territórios e pode comprometer a sobrevivência do
mico-leão-dourado através de competição direta e/ou introduzindo novas doenças.
Além disso, por ambas serem do gênero Leontopithecus,
essas espécies podem vir a se acasalar, dando origem a híbridos que
potencialmente ocupariam os remanescentes de Mata Atlântica, o que
representaria uma nova ameaça ao mico-leão-dourado. É urgente a remoção dos
grupos de mico-leão-da-cara-dourada da região de Niterói, São Gonçalo e Maricá
antes que o aumento e a expansão da população introduzida tornem inviável sua
retirada - e essa foi a principal recomendação dos órgãos governamentais e não
governamentais envolvidos na conservação das duas espécies, por meio do Plano
de Ação Nacional para a Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central,
coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas
Brasileiros (CPB) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
Assim, desde junho de
2012, a ONG Instituo Pri-Matas está capturando os micos-leões-de-cara-dourada
introduzidos no Rio de Janeiro, e depois transportando, soltando e monitorando esses
animais numa área de Mata Atlântica protegida pela Veracel Celulose
(Bemonte/BA), dentro da área de distribuição original da espécie.
Como os micos-leões-da-cara-dourada
estão vivendo em matas vizinhas à cidade (com lixo, animais domésticos, casas
etc.) e até recebem alimentos de moradores locais, podem pegar doenças das
pessoas, e por isso precisam passar por quarentena e fazer vários exames de
saúde no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, do INEA (Guapimirim/RJ),
onde permanecem durante 30 dias e recebem alimentação e supervisão médica
diária antes de serem transportados e soltos na Bahia. Amostras de sangue,
fezes, pelos e outros materiais biológicos são enviadas para laboratórios localizados
nas universidades de São Paulo (USP), Federal Fluminense (UFF) e Paulista
(UNIP), além dos institutos Pasteur/SP e Biológico/SP, sob a coordenação do
Laboratório de Patologia Comparada de Animais Selvagens da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Após a verificação da saúde dos
animais, aqueles considerados saudáveis são transportados (cada família numa
caixa separada) pela TAM Cargo para Porto Seguro/BA, e seguem para a área de
soltura. Alguns indivíduos de cada grupo recebem rádio-colar e são soltos e
monitorados na nova área, para avaliação do sucesso do procedimento. Os gastos
com os exames e transporte são custeados pelas instituições parceiras.
Em Niterói, uma equipe de
educação ambiental do Instituto Pri-Matas e técnicos do Parque Estadual da
Serra da Tiririca, administrado pelo INEA, também ajudam a explicar aos
moradores da região a importância do projeto para a conservação dessas duas
espécies ameaçadas de extinção.
Até o momento já
capturamos 104 indivíduos e translocamos 66 para a Bahia; 17 estão na
quarentena e quatro grupos (24 animais) que apresentaram resultados positivos
para doenças permanecem em cativeiro. Calculamos que metade dos indivíduos já
foi retirada da região de Niterói e até o final do ano esperamos capturar todos
os remanescentes. No começo de março foram observados os primeiros filhotes dos
grupos soltos na Bahia, uma indicação do sucesso da adaptação dos
micos-leões-de-cara-dourada na nova área.
O projeto tem apoio do
CPB/ICMBio; da Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro e do INEA; e das secretarias
municipais de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade e de Educação
de Niterói. Recebe financiamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à
Natureza, da RBO Energia (através da Câmera de Compensação Ambiental da
Secretaria do Ambiente – RJ), do Tropical Forest Conservation Act-TFCA/FUNBIO, do
Lion Tamarin of Brazil Funds, de Margot Marsh Biodiversity Foundation/Conservation
International e MBZ Species Conservation Fund.
Contatos: primatas.caradourada@gmail.com
(021) 2709-5221
(021) 7123-4974